segunda-feira, 20 de abril de 2015


 
Malleus Maleficarum (traduzido para português como Martelo das Feiticeiras ou Martelo das Bruxas) é um livro escrito em 1484 e publicado em 1486 (ou 1487), por dois monges alemães dominicanos, Heinrich Kramer e James Sprenger, que se tornou uma espécie de "manual contra a bruxaria". O livro foi amplamente utilizado pelos inquisidores por aproximadamente duzentos e cinqüenta anos, até o fim da Santa Inquisição, e servia para identificar bruxas e os malefícios causados por elas, além dos procedimentos legais para acusá-las e condená-las.
O Malleus Maleficarum traz inúmeras e exageradas descrições e, até certo ponto, apelativas e incoerentes. O livro divide-se em três partes distintas, sendo que cada parte subdivide-se em capítulos chamados de Questões. A primeira parte, que contém dezoito questões, ensina a reconhecer bruxas em seus múltiplos disfarces e atitudes. A segunda parte traz apenas duas ques- tões, mas a primeira está subdividida em dezesseis capítulos e a segunda em oito capítulos. Esta segunda parte expõe os tipos de malefícios, classificando-os e explicando-os detalhadamente, e os métodos para desfazê-los. A terceira e última parte, que contém uma introdução geral e trinta e cinco questões subdivididas, condiciona as formalidades para agir "legalmente" contra as bruxas, demonstrando como inquiri-las e condená-las, tanto nos tribunais civis como eclesiásticos.
As teses centrais do Malleus Maleficarum fundamentaram-se na idéia de que o demônio, sob a permissão de Deus, procura fazer o máximo de mal aos homens para apropriar-se de suas almas. Este mal é feito prioritariamente através do corpo, único canal em que o demônio pode predominar. A influência demo- níaca é feita através do controle da sexualidade, e por ela, o demônio se apropria primeiramente do corpo e depois da alma do homem. Segundo o livro, as mulheres são o maior canal de ação demoníaca.
Ainda, a primeira e mais importante característica descrita no livro, responsável por todo o poder das feiticeiras, é copular com o demônio. Portanto, Satã é o "senhor do prazer". Dessa forma, uma vez obtida a relação com o demônio, as feiticeiras são capazes de desencadear todos os males, especialmente impotência masculina, impossibilidade de livrar-se de paixões desorde- nadas, oferendas de crianças à Satã, abortos, destruição das colheitas, doenças nos animais, entre outros. Porém, no próprio livro é citado que o coito com o demônio não seria exatamente carnal, já que estas criaturas eram espíritos, mas ocorria através de rituais orgíacos.spectrumgothic.com.br


O surgimento do Malleus Maleficarum

No início do século IX, havia a crença popular sobre existência de bruxos que, através de artifícios sobrenaturais, eram capazes de provocar discórdia, doenças e morte. Por sua vez, a Igreja não aceitava a existência de bruxos e ainda, baseado no Conselho eclesiástico de São Patrício (St. Patrick), afirmava que "um cristão que acreditasse em vampiros, era o mesmo que declarar-se bruxo, confesso ao demônio" e "pessoas com crenças não poderiam ser aceitas pela Igreja a menos que revogue com suas palavras o crime que cometeu".
Na segunda metade do século X já havia penalidades severas para quem fizesse uso de artes mágicas. No século XIV (1326) a Igreja autoriza a Inquisição a investigar os casos de bruxaria. Pouco mais de cem anos depois, em 1430, teólogos cristãos começam a escrever livros que "provam" a existência de bruxos. O livro Formicarius, escrito por Thomas de Brabant, em 1480, aborda a relação entre o homem e a bruxaria.
Em uma sociedade na qual a religiosidade, política, sexualidade e artes estavam interligadas e sob o domínio da Igreja, transgredir as normas de conduta em apenas um desses campos, acarretaria, por conseqüência, numa transgressão generalizada e direta sobre o poder do clero. Dessa forma, sob o papado de Inocêncio VIII, o Malleus Maleficarum nasceu da necessidade que a Igreja Católica tinha de organizar e legitimar suas práticas, principalmente quando relacionadas à Santa Inquisição, que já atuava desde o final do século XII. Até aquele momento, não havia uma referência oficial que abordasse a questão da bruxaria. Fazia-se necessário um documento escrito, aprovado pelo corpo eclesiástico, que tivesse valor legal e determinasse com maior precisão possível, as práticas de feitiçaria e suas respectivas punições.
Heinrich Kramer e James Sprenger, através de uma bula de Inocêncio VIII, foram nomeados inquisidores para que investigassem as práticas de bruxaria nas províncias do norte da Alemanha e incumbidos de produzir a obra que institucionaliza-se e legitima-se a ação da Igreja. Por aproximadamente dois anos, encarregaram-se da produção do espesso trabalho de mais de quatrocentas páginas. Por fim, o Formicarius foi acoplado e passou a fazer parte do tratado eclesiástico intitulado Malleus Maleficarum. A imprensa, recém surgida, facilitou a divulgação da campanha movida pela Igreja contra as feiticeiras.


Mulheres & Feiticeiras

Tradicionalmente, nas culturas pré-cristãs, a mulher era objeto de adoração e respeito. Era a fonte doadora da vida e símbolo da fertilidade. Porém, mesmo sob a alegação formal de combater a heresia em todas as suas variações, as descrições contidas no Malleus Maleficarum, fundamentadas em conceitos de uma civilização patriarcal, contribuíram para construir uma idéia fantasiosa e infamante sobre as mulheres.
Esta idéia podia ser legitimada através do preceito que Eva surgiu de uma costela torta de Adão. Logo, ocorreu a associação que, conseqüentemente, todas as mulheres não podiam ser retas em sua conduta. Ainda, o pecado original ocorreu através do ato sexual (na metáfora de Adão e Eva comendo maçã) e, assim, a sexualidade era o ponto mais vulnerável do ser humano. Portanto, segundo o livro, "mas a razão natural está em que a mulher é mais carnal do que o homem, o que se evidencia pelas suas muitas abominações carnais".
Desse modo, qualquer mulher que se dispusesse a tratar pequenas enfermidades ou ferimentos com preparados do- mésticos à base de ervas, morasse sozinha e tivesse um animal de estimação (um gato, por exemplo), tivesse com- portamento pernicioso, entre outras alegações superficiais, podia ser acusada de bruxaria.
tortura, como é sugerida no próprio Malleus Malefi- carum, era o método utilizado para extrair as confissões das supostas bruxas. Aparelhos como A dama de ferro e aCadeira das Bruxas eram amplamente utilizados. Além de torturas menos sofisticadas, como aquecimento dos pés ou introdução de ferros sob as unhas. Deste modo, a ré passava por tantos suplícios que acabava por admitir as sentenças elaboradas pelo inquisidor.
Ainda, as lendas em torno das supostas bruxas propa- gavam-se entre o povo. Através da ação demoníaca, uma mulher podia ser capaz de se transformar em animais, voar e manipular a vontade, confundir o pensamento e a atitude de outras pessoas. Provocar ereção masculina ou a impotência sexual; além de inibir ou aumentar a libido de suas vítimas. As bruxas, em seus rituais, dançavam nuas nos campos e se alimentavam de fetos e cadáveres.
Atualmente, aos olhos da ciência moderna, principalmente da psicanálise, diversos "sintomas e indícios" de possessão demoníaca descritos no Malleus Maleficarum são apenas disfunções mentais, como histeria e alucinações. O ocorrido em Salem, Nova Inglaterra, no fim do século XVII, é um bom exemplo de histeria coletiva. Ainda sob o olhar dos historiadores modernos, os motivos que levaram à produção do Malleus Maleficarum não são mais que artimanhas políticas com pouca ou nenhuma argumentação religiosa.
De qualquer forma, o Malleus Maleficarum é um produto religioso e político dos mais significativos da Idade Média. Não é possível dissociá-lo do contexto histórico da Santa Inquisição, da Igreja Católica medieval, tampouco dos principais acontecimentos daquela época, como a peste negra, a queda do sistema feudal, a invenção da imprensa e o início da Renascença. Isto porque, de forma direta ou até mesmo contraditória, um acontecimento impacta sobre outro. Assim, o Malleus Maleficarum é mais que um "código penal eclesiástico" utilizado na Idade Média; é um registro fiel do que foi parte do pensamento da Igreja Católica medieval, com uma imensa oposição à figura da mulher e um desejo ensandecido de manter a autoridade política, econômica e religiosa e, desse modo, de todo um contexto deste capítulo da história da humanidade.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

O Poder dos Instrumentos de Magia

Magia dos Instrumentos do Bruxo e da Bruxa




Na Wicca são chamados Instrumentos Mágicos os instrumentos que são usados na prática religiosa para focalizar a intenção e a atenção do praticante em uma determinada ação. Cada instrumento tem relação com algum dos cinco elementos da natureza: Terra, Ar, Fogo, Água e Akasha.

Veja os principais:
Pentagrama (ou Pentáculo)
É uma estrela de cinco pontas dentro de um círculo. Pode ser feito de madeira, metal, argila, ou outro material. Em alguns rituais o pentagrama pode ser contornado com pedras

Athame ou Espada Ritual
É um punhal de lâmina dupla e cabo tradicionalmente preto. Também pode ser substituído por uma espada com fins estritamente rituais. É usado para direcionar energias e também para traçar o Círculo Mágico, representa a energia masculina, sendo um símbolo fálico. Representa o elemento fogo (ou ar em algumas tradições). O Athame nunca é usado para derramar sangue, nem deve ser usado para cortar algo físico.
Varinha ou Bastão
Tem simbolismo semelhante ao Athame, usado para direcionar energia e para invocações, também é usado para traçar o Círculo Mágico. Representa o elemento ar (fogo em algumas tradições). Tradicionalmente é feito de madeira de uma arvore sagrada como Aveleira, Carvalho, Macireira, Freixo, Espinheiro, Sabugueiro, Acácia, Loureiro, entre outros, mas qualquer arvore serve, normalmente se toma galhos já caídos, e no caso de cortar sempre se pede permissão à árvore e deixa-se alguma oferenda.
Cálice
Representa o elemento água, é usado para se beber o vinho ou outra bebida ritual, simboliza o principio feminino relacionando-se, assim como o Caldeirão, ao ventre da Deusa. Pode ser feito de metal, cristal, madeira, pedra, concha do mar, chifre, entre outros.

Caldeirão
O caldeirão simboliza o princípio feminino, representa o útero de Deusa-Mãe, de onde todas as coisas vêem. É usado pelos wiccanos para queimar papéis com pedidos, agradecimentos e orações ou para fazer fogueiras. Tradicionalmente possui três “pés” que representam as três faces da Deusa: Donzela, Mãe e Anciã. O caldeirão está ligado ao elemento Água que denota uma influência psíquica e do inconsciente.

Vassoura
Na bruxaria em geral, e especificamente na Wicca, a vassoura é um instrumento usado para limpar o espaço mágico antes ou depois de fazer algum feitiço ou ritual. A vassoura representa o masculino (através do cabo) e o feminino (através da piaçava). Era comum as bruxas utilzarem vassouras em seus ritos de celebração da natureza, pulando sobre as vassouras em meio a colheita, o que levou à crença moderna de que bruxas voam em vassouras. Nos rituais matrimoniais da Wicca existe uma tradição onde os recém-casados saltam (com as mãos dadas) uma vassoura deitada no chão, para marcar o início da vida espiritual em perfeita união.

Livro das Sombras
O Livro das Sombras, muito conhecido como BOS (do inglês Book Of Shadows), é um diário usado por praticantes de magia para registrar rituais, feitiços e seus resultados, bem como outras informações mágicas. Tanto praticantes individuais quanto covens mantêm esse tipo de Livro. Nele são inscritos invocações, receitas de poções, métodos de realização de rituais, contos sobre a mitologia, enfim, tudo relacionado à tradição seguida. Tradicionalmente, muitos preferem que seja preto com um pentagrama cravado na capa, mas isso não é regra. Por ser um Livro pessoal, pode ser de qualquer cor e qualquer material que o praticante desejar, normalmente os praticantes preferem ornamentar com folhas, canela, e também com papel reciclado, mas isso é escolha de cada um.

Bolline
Faca de cabo tradicionalmente branco, geralmente usada para colher ervas e gravar inscrições. É, simplesmente, uma faca prática de trabalho dos wiccanos, ao contrário da puramente ritualística athame. Em algumas tradições é substituída por uma foice.
Sino
O sino é usado na religião Wicca para marcar o início e/ou o fechamento de um ritual, para invocar seres específicos em um ritual e também para despertar da meditação os membros do coven. Também é tocado quando se deseja afastar coisas malignas, para interromper tempestades ou para invocar e circular energias positivas. Nos rituais funerários da Wicca os sinos também são tocados, em honra àquele que partiu.

Fonte: wikipédia


As Bruxas das Asturias

A Ambivalência da  Bruxa Asturiana 
A bruxa asturiana é conhecida nas lendas e contos populares por guaxa ou coruxa, o seu nome de baptismo regional. 
Trata-se de um ser ambivalente, mesmo pelo nome que a identifica com a coruja, um animal noturno e de rapina, que as lendas rabínicas atribuem à Rainha por excelência da Bruxaria: Lilith. Não a bruxaria nascida pela fertilização cruzada da Magia Cerimonial e da etnografia imaginativa, que a Folclore Society difundia em fins do século dezenove e inícios de vinte, e criada pelo Wicca, mas uma corrente imemorial e antinomianista de bruxaria cujas raízes nasceram da rebelião dos Anjos e de sua união com a Humanidade Primitiva. 
Perguntei-me muitas vezes o que poderia significar guaxa e a única explicação plausível é vir de guaco, molhado, referindo-se ao curioso fenômeno dos aquelarres asturianos estarem relacionados com lugares húmidos e cheios de água, mas também no sentido pejorativo de “estar molhada”, isto é, excitada sexualmente. 
 
As assembleias das bruxas asturianas nada deviam aos do Labadour, na zona basca francesa, quanto ao esplendor orgíaco e à folia sacrílega. Lugares como Vega del Palo, o centro máximo dos aquelarres ocidentais asturianos, celebra-se num lugar que, pelo seu toponímico, tem a ver com humidade. 
Vega também é traduzível por «lugar inundado». E não há dúvida que a humidade é tão grande que permeia a própria atmosfera, como se a várzea fosse um lago cheio de água invisível, onde respirávamos como peixes pelas guelras da nossa imaginação. 
 
Conhecem-se apenas seis casos de bruxas asturianas julgadas em tribunal de Inquisição e tratadas com mão leve nas suas conclusões penais pelos sereníssimos magistrados, e entre eles fundamentalmente: o de Oria, de Teresa Pietra, da lobeira de Posada de Llanes, de Juana Garcia. Tratam-se de casos, como disse, do foro clínico e psiquiátrico ou mesmo, como no caso da lobeira Ana Maria Garcia, de uma mulher que provocava os valores tradicionais da sociedade e do bom decoro cristão com o seu comportamento sexual e anti-social. 
Pelas Asturias abundavam muitos curandeiros e benzedeiros, 'las rezadoras e los saludadores', mas estes representantes da medicina popular não são propriamente o modelo arquetípico da coruxa. A bruxa asturiana é um ser do Outro Mundo, símbolo do Mal Metafisico, que por vezes se introduz neste mundo pela hora do crepúsculo e metamorfoseado de animal de rapina. É a alma de um humano, o 'ba' dos egípcios, que como uma ave se solta do corpo e viaja pelo mundo intermediário e astral e vagueia pela esfera das nossas visões e dos nosso sonhos lúcidos. 
Entendamos, no entanto, esta noção de «mal metafísico» no sentido iniciático como um ordálio que testa, pelo sofrimento e radicalização, o nosso ego padronizado para que possa abrir-se à influencia do sobrenatural. Ninguém pode passar os Portais do Aquém e do Além se não matar a estrutura convencional do seu ego. Não será descabido, por isso, lembrar os extremos sofrimentos porque passou a paradigmática Isobel Gowdie, a famosa bruxa escocesa, na sua iniciação pelo Homem Cinzento para se tornar uma bruxa. 
 
Isobel Gowdie
A iniciação tradicional da “Bruxaria Sobrenatural” nada tem a ver com a bruxaria de raiz folclórica e ocultista do Wicca e os seus ritos de passagem, celebrados com a burguesa e acolhedora bonomia dum coven, estando numa longa linhagem de transformação da Alma cujas raízes se encontram no Xamanismo Primitivo. 
Ser coruxa é ter este dom de viajar astralmente entre os mundos, pelos interstícios dos universos intermediários, e a sua morada são as cuevas esburacadas das montanhas. Nada há de mais divertido, por isso, do que ver e ouvir relatado que as cuevas são os simulacros hispânicos dos nossos covens. 
Como o orifício de entrada para o outro mundo de muitos xamâs euro-asiáticos, as cuevas são pontos e nós de transição astral pelos Iniciados que conhecem as chaves tradicionais e pelos quais se entra nos aquelarres que se desenrolam fora do tempo e do espaço. Na Tradição Luciferina da Bruxaria ela é chamada por «Porta do Inferno». A expressão inferno deve ser aqui tomada no seu sentido esotérico, isto é, etimologicamente traduzido por «estar debaixo»,  «inferior». Entendamo-nos: «estar debaixo» da nossa personalidade, no nosso inconsciente antropológico diria um psicanalista, ou em termos xamânicos, no Submundo. Não estranha, por isso, que os lobos sejam os acompanhantes preferidos destas mulheres e homens aventureiros do invisível, que como o cão-lobo Cerberu guarda o Tártaro. 
 
Guaxa é uma velha encarquilhada oposta à Xana na mitologia asturiana, cuja esbeltez e beleza emoldurada pelos seus longos e fulvos cabelos atrai os iniciados para as suas cuevas, que se abrem próximas das fontes e dos rios. 
O pavor que a guaxa provocava no cidadão comum devia-se menos á sua fealdade do que ao facto de «chupar la sangre de los niños». Trata-se de uma expressão esotérica mal entendida, e que releva para a ironia com que Aleister Crowley fustigava a sociedade púdica e vitoriana do seu tempo, ao afirmar que havia matado centenas de criancinhas. A metáfora «matar crianças» ou «chupar o sangue dos meninos» insinua que ela tinha relações sexuais sem fins procriadores, já que para o clero um ato sexual sem procriação era matar uma criança. Na essência «o sangre de los niños» refere-se à menopausa e ao facto de se pensar que a mulher retinha para si o sangue menstrual furtando-se ao dever de procriar. Este momento era visto com estranheza pela cultura cristã para a qual não menstruar e não poder ter filhos, conservando simultaneamente o ímpeto sexual, pareceria uma coisa diabólica. É que para a sociedade cristã é a sensualidade que é pecado, e não o dever de procriar, já que Deus disse: «crescei e multiplicai-vos». 
 
Xana
Mas essa metáfora da bruxaria arcaica refere-se também ao fato de, além de não procriar, reter o sémen dos amantes, e criar os céleres seres demoníacos da sua imaginação, como havia feito Lilith. Na imagem asturiana da guaxa nós encontramos o mesmo simbolismo das sheela-na-gig  irlandesas: ambas são feias, velhas e libidinosas. 
Para a Alta Magia todo o ato sexual pode ter uma conclusão procriadora, mesmo quando isso não é possível em termos fisiológicos. A simples descarga apaixonada dos elixires corporais pode criar seres supra-sensíveis, quando a mente bem treinada de um ocultista de «mão esquerda» se aplica segundo as leis e fórmulas adequadas. Deve-se reter aqui, que em muitos dos relatos orgíacos dos Sabates se ocultam vários ritos e cifras de magia sexual que fizeram parte da Tradição Luciferina da Bruxaria, aquela que pelo ímpeto iniciatório de Azazel trouxe, pela sua união com  as belas filhas dos homens, o conhecimento da magia erótica e dos encantamentos. 
 
Xana e Guaxa
Mas ao contrário da guaxa,  a xana é uma donzela e fada que habita as cuevas próximas dos rios que correm pelos desfiladeiros e, como a Fada de Lusinham, ela tem também o poder de construir pontes e castelos. Sob este simbolismo está oculto a crença esotérica de que é ela que protege o nosso Circulo Mágico, habitualmente figurado na forma de uma muralha de quatro atalaias, tal como vemos nas mandalas hindus. A própria palavra mandala quer dizer em sânskrito circulo, representado sempre por uma muralha circular de quatro ou oito torres, onde vivem os boddisatwas. 
À Xana se atribui, por isso, a construção de muitos dos dolmens do norte hispânico, as arredondadas mamoas do  norte português onde vivem as moiras encantadas em serpentes. Ora, precisamente um dos nomes pelos quais a xana  é conhecida entre os asturianos é moura ou mora. 
Segundo Miguel Arrieta Gallastegui as bruxas asturianas eram conhecidas também por xanas, isto é, seres etéricos e efeminados, da escala das fadas, guardiã dos tesouros e em íntima relação com 'la cuélebre', uma serpente-morcego que protege os tesouros da sua sabedoria e desafia os iniciados pela prova do terror. 
 
A serpente e o morcego são as duas zoofanias destas divindades asturianas que parecem confrontar-se entre si como formas simétricas do mesmo Mistério Feminino. Se nos lembrarmos que Lilith era serpente e morcego, poderíamos dizer que xana e guaxa são duas faces do mesmo simbolo feminino mágico. 
Não há dúvida que 'la cuélebre' nada mais será do que o disfarce da Serpente Samael ou Zamael, aquele que “abriu os olhos” de Eva e que em união com Lilith gerou o nosso avatar Caim. Tudo isto aponta para a necessidade de reler a prática da Bruxaria Asturiana à luz de princípios radicais que não se esgotam nem se explicam à luz do «wicca de supermercado» que infesta a cultura neo-pagã moderna, mas de uma corrente tradicional que permeia toda a bruxaria antiga até à descoberta do Vangello publicado por Leland: de que a sua raiz é fundamentalmente luciferina e contra-iniciática. Isto evidentemente será chocante para a massificante cultura de supermercado em que se tornou o neo-paganismo wiccan, com as suas versões de ocultismo popular.
 

Simultaneamente obriga-nos a trazer para a ordem da discussão esotérica moderna o que sempre defendeu o bruxo e iniciado Robert Cochrane: que a bruxaria antiga não era de raiz neo-pagã.  imagick.org.br