segunda-feira, 24 de março de 2014

BRUXA LINDA NO CEMITERIO

BRUXA GOTICAUMA BRUXA LINDA SENTADA NO CHÃO DE UM CEMITERIO GÓTICO CERCADO DE CAVEIRAS COM UMA CRUZ E UM AMIGO CORVO.cemiteriodasimagens.com

Bruxas


"Uma bruxa geralmente é retratada no imaginário popular como uma mulher velha, nariguda e encarquilhada, exímia e contumaz manipuladora de Magia Negra e dotada de uma gargalhada terrível", mas quero lhes mostrar o outro lado da história.



As bruxas não são velhas narigudas, nada disso, são pessoas normais, apenas diferenciadas pelos seus poderes sobrenaturais! Toda bruxa possui um Book of Shadows ( Livro das Sombras ) que é um livro que passa de geração em geração, nele possui vários feitiços, explicações para esses poderes e identidade.



Bruxas não andam sozinhas, elas tem um tipo de "grupo" em que são necessárias seis pessoas de famílias diferentes, assim elas fecham o circulo, podendo apenas usar poderes coletivos.



     Baseado no seriado: The Secret Circle
                (Administrador Blakedrowning-in-flames

domingo, 23 de março de 2014

Necromancia


Hoje venho falar de umas das mais antigas práticas da humanidade, a Necromancia, por estar intimamente ligada a Arte dos Sábios,  que diferente da Wicca, faz amplo uso desta prática. A Wicca faz uso quase que unicamente da força de suas duas divindades para realizar seus trabalhos, ficando as demais porções divididas entre o poder pessoal, e uma ínfima parte destinada aos elementais. A Arte Tradicional além do uso de divindades, elementais e claro do poder pessoal, faz grande uso da força dos espíritos, os nossos mortos poderosos, chamados também por um membro do coven de Evan Jhon Jones, de Companhia Oculta, chegando algumas tradições a fazerem uso exclusivo da necromancia, visto a enorme eficácia deste método, muitas vezes conhecido por vários nomes, menos necromancia, chegando muitas vezes a ser evitado pelo alto desgaste deste nome pela industria de filmes, quadrinhos e games.

Hoje quando se fala de necromancia, a primeira coisa que vem na cabeça de muitos é o jogo Diablo, ou rpg’s de tabuleiro, tendo como ícone a figura tradicional de um mago: um velho de túnica, chapéu largo de ponta, portando um cajado mágico, mas com feições cadavéricas, especializado em ressuscitar os mortos e materializar fantasmas de forma espontânea para atacar seus inimigos. Uma verdadeira piada!!!

Mas o que afinal de contas o que é a necromancia?

A necromancia é algo muito amplo, vai desde uma simples consulta aos mortos como oráculo, passando por feitiços e chegando a rituais extremamente elaborados, variando de acordo com o país e a tradição. Sempre que esotéricos se referem a necromancia, pensam em britânicos realizando ritos semelhante a descrição irônica citada no parágrafo acima, quando na realidade, qualquer invocação ou evocação de espíritos é considerada necromancia.

Na Europa uma das práticas necromânticas mais famosa é o culto aos Lares e Manes dos antigos romanos, sendo um culto aos ancestrais. Todas as casas possuíam um altar para seus ancestrais, almas divinizadas que protegiam seus descendestes, e agiam em muitos casos como espíritos familiares dos que praticavam a feitiçaria. Estas práticas também eram comuns não só entre os celtas como praticamente a todos os povos da antiguidade.

 No Brasil temos uma forma de necromancia extremamente popular, mas que não é conhecida como tal, a Umbanda! Sim, a Umbanda assim com a Kimbanda é pura necromâcia. No Brasil, dentre as religiões de matriz africana, a que mais se destaca é o Candomblé Ketu (vou falar deste por ser o mais difundido no país, apesar de existirem vários outros como o Angola, Jejê, Bantu...) que trabalha apenas com Deuses (se assemelhando neste aspecto a Wicca), os Orixás, não permitindo a incorporação de espíritos, tendo para isso um culto próprio, o Egungun celebrado em dias diferentes e local próprio.

A Umbanda apesar de trabalhar com os Orixás, tem destes uma interpretação particular e diferente da visão africana, considerando-os como energias cósmicas e inteligências e não Deuses, tendo Olodumaré como Deus único. Cada Orixá na Umbanda possui o que é chamado de falangeiros de Orixá, sendo estes espíritos extremamente evoluídos que trabalham com o poder do dito Orixá, agindo como um porta voz ou representante, explicando assim porque na Umbanda existem Vários Ogums (Ogum Megê, Beira Mar, Beira Rio, Ronda...) ao passo que no Candomblé existe apenas um. Sim existe a incorporação de Orixás na Umbanda, mas não é algo que se vê todos dias nos terreiros.

 Isso pode classificar  os trabalhos da Umbanda sendo 99% necromancia. Já na Kimbanda não há incorporação de Orixá, sendo incorporados apenas espíritos sendo 100% necromancia.

Existem muitas outras práticas e religiões no Brasil que fazem uso da necromância, com o Catimbó, Jurema e até mesmo o kardecismo é considerado necromancia, mas vamos nos ater ao que nos interessa, a feitiçaria.

Outra prática mágico religiosa que faz uso da necromancia é o Vodu, em todas as suas manifestações, como a haitiana tendo a nação Petro mais voltada a feitiçaria, chamada de Makaya, e a nação Rada, de cunho mais religioso, o da Luisiana nos Estados Unidos, gnóstico e esotérico dos franco-haitianos que merecem um post exclusivo que futuramente estará a disposição dos interessados.

O Hoodoo, que é uma prática afro-americana, diferenciando-se do Vodu, principalmente por não ser uma religião, que além da tradição africana reúne práticas européias de magia e shamanismo dos índios americanos, também tem as comunicações com os espíritos como algo essencial em sua forma de feitiçaria.

Mas como estabelecer o contato com os espíritos? Para isso é necessário mediunidade, algo comum a todas as pessoas. Alguns já nascem com seus dons desenvolvidos, outros necessitam desenvolvê-los. Para isto basta passar freqüentar locais onde aja este trabalho, como centros espíritas, terreiros de Umbanda. Mas caso não simpatize com estas linhas, uma alternativa é a canalização, é só fazer um curso. A canalização é muito simples, tão simples que você não vai acreditar que esta canalizando.

Não recomendo, pois o correto é fazê-lo com um orientador, mas é possível desenvolver a prática da canalização por conta própria. Como sou a favor de que cada um deve fazer o que acha melhor em tudo na sua vida, digo-lhes como, lembrando que isso é por conta e risco de quem resolver fazê-lo.

1° - Primeiro é preciso desenvolver uma sensibilidade à energia etérica e astral, para isso leia o meu post Treinamento Místico, ou procure exercícios a que se adapte melhor, sugiro os encontrados nos livros Toque Quântico de Richard Gordon ou Mãos de Luzde Bárbara An Brenann, facilmente encontrados em livrarias esotéricas.

2° - Depois da sensibilidade desenvolvida, procure pela apostila “Boas Vindas a Canalização”, facilmente encontrada na Internet em vários sites. Leia e releia, quantas vezes for necessário para entender do que se trata. Feito isso, vá ao youtube, existe um vídeo que dá uma versão simplificada de como canalizar, mas o importante é em primeiro lugar saber o que é e como funciona a canalização,  o que você estará trabalhando e com quem estará trabalhando, e a apostila cumpre bem este papel.

3° - Se seguir os passos que eu mencionei da forma que mencionei, pode ter certeza de que irá canalizar no final do seu treino. Comece canalizando seu Guia da 5ª dimensão, que é onde vivem os mestres ascencionados. Não tente enganá-lo, diga a verdade, que esta aprendendo a canalizar para entrar em contato com espíritos, ou seja lá qual for seu objetivo, ele entenderá e vai ajudá-lo da melhor forma possível. Levará algum tempo para ele lhe dizer o seu nome, isso é normal. Trabalhe com ele a prática da canalização pelo tempo necessário, depois passe a canalizar os Mestres dos Sete Raios, isso também é um bom treino, não canalize os Arcanjos caso sua intenção seja a feitiçaria, pois lhe tratarão com desprezo. Quando se achar preparado, diga ao seu Guia para que lhe traga um espírito de confiança para que você tente estabelecer a comunicação. Conseguindo, a única coisa que tenho a dizer é: BOM SENSO!!!

Depois disso conseguirá canalizar qualquer tipo de espírito, como os da linha kardecista, da Umbanda e Kimbanda, bruxos e bruxas mortos na inquisição...

Caso não seja iniciado em nenhuma tradição, esta é uma alternativa para estabelecer contato com as forças espirituais, e com isso já terá 90% de eficácia na prática da feitiçaria, bastando depois apenas trabalhar o cerimonial e os feitiços. Não pensem que com isso tento converter pessoas interessadas em bruxaria ao esoterismo da nova era, de maneira alguma!
Mas são praticas que vão ajudar aqueles que não possuem em suas cidades, ou mesmo em sua região um concílio de bruxaria tradicional ou mesmo um coven de wicca.

Não pensem também que no meus ritos eu invoco mestres ascensionados, ou pretos velhos. Antes que comecem as especulações, digo em que consiste meu cerimonial:


  • Primeiro limpo física e astralmente o local, depois organizo a área ritual, dificilmente faço uso, mas quando necessário traço o compasso (círculo mágico) com uma faca ritualística.
  • A norte do compasso cravo meu Stang simbolizando o guardião dos portões de Elphame. 
  • No centro do compasso acendo o fogo sagrado, após isso evoco a Forças das Quarto Direções, depois de evocadas vinculo as quatro forças finalizando a consagração do compasso, mas comumente a área ritual. 
  • Então evoco o Rei de Elphame, e se por acaso estiver num local de atmosfera sinistra, evoco também os cães do Reino das Fadas para vigiar as fronteiras do compasso. 
  • Finalmente celebro do drama ritual no caso de um sabbá, ou o feitiço no caso de um esbbá.
  • Ao fim das práticas agradeço a presença do Rei de Elphame, ou da divindade evocada, dispenso os espíritos elementais e agradeço a presença da companhia oculta. Isto será explicado em maiores detalhes no meu livro. 
Sou apenas uma pessoa que explorou várias áreas do ocultismo, inclusive o da nova era, e não me arrependo nem um pouco, afinal, conhecimento nunca é demais.

Para finalizar quero deixar claro uma coisa que confunde muito as pessoas interessadas em bruxaria, mais por preconceito do que por qualquer outro motivo. Dou esta explicação aproveitando o gancho por ter dado uma certa atenção a Umbanda e neste post.

Um dia passando por um fórum do yahoogroups, vi a seguinte pergunta:

Qual a mais poderosa, a Umbanda ou a Wicca? Ou qual a diferença, não me lembro ao certo...

E esta pergunta teve a seguinte resposta dada por uma usuária muito inteligente e sábia:

A diferença entre a Umbanda e Wicca é que a Umbanda faz MACUMBA e a Wicca faz FEITIÇOS!

Não sei como colocaram isto no quadro de respostas, estes fóruns deviam ter um mediador que quando visse este tipo de resposta preconceituosa ou ofensiva a excluísse de imediato.

Para as pessoas realmente interessadas neste assunto dou a seguinte explicação:

Tanto na Umbanda ou Candomblé como demais religiões afro-brasileiras, quando os escravos ou empregados precisavam falar de feitiços, feitiçaria ou bruxaria, e estavam perto de seus donos ou patrões, eles usavam termos como macumba, kizumba, urucubaca e mais recentemente mironga, para que não percebessem do que se falava, ou seja, era um código ou gíria utilizada por eles. Estas religiões fazem uso da feitiçaria, mas possuem uma forma diferente de trabalhar seus rituais e feitiços, que realmente não agrada a todos, sem falar no alto custo, mas desprezá-los como bruxaria com termos pejorativos é puro preconceito, ignorância e desinformação.apedradasbruxas.com

A Bruxa de Évora



A feiticeira ou bruxa de Évora é uma das personagens mais populares e misteriosas do folclore e das lendas da magia, especialmente na esfera da cultura popular. Sua biografia é dispersa, incerta, cheia de contradições.  Até onde conduzem as pesquisas, não pode ser considerada figura histórica; no entanto, sua fama é suficiente para considerá-la arquétipo mítico de um certo tipo de bruxa, de feiticeira.

Sobre uma Bruxa de Évora, como pessoa localizada em um tempo, sua identidade primeira e verdadeira, sobre isso não há, nenhum registro que possa ser considerado como Histórico, documental, de fonte confiável. Documentos referentes à Bruxa simplesmente inexistem. 

É difícil até mesmo determinar a época em que viveu. A maioria dos textos/livros sobre uma Bruxa de Évora afirma que ela viveu no século... Outros, dizem que viveu em meados da Idade Média. Todavia,  um único de texto de referência permite supor que, na verdade, essa Bruxa é mais antiga, e que poderia perfeitamente ter vivido em pleno século III d.C..

Mítica, é possível que a primeira bruxa de Évora tenha sido tão poderosa e influente que seu nome tornou-se sinônimo para praticantes da bruxaria que vieram muito depois e também fizeram fama desde o antigo oriente Médio, Ásia Menor. Uma idéia de bruxa que alcançou não somente a Península Ibérica mas também toda a região costeira do Mar Mediterrâneo, os Bálcãs, as ilhas do mar Mediterrâneo: ao longo de séculos, a expressão "Bruxa de Évora", tornou-se algo como um título.

A BRUXA & O SANTO FEITICEIRO

As pesquisas sobre esta feiticeira indicam que boa parte de sua fama nasce junto com a fama de um outro mago negro controverso: CIPRIANO DE ANTIOQUIA que viveu no século III da Era cristã (anos 200). Este, depois de uma vida dedicada à magia negra, converteu-se ao Cristianismo e foi até canonizado passando fazer parte da história Cristã como São Cipriano.

Segundo as lendas, pois as biografias desses personagens não têm registros históricos precisos,o nome "Bruxa de Évora" [ou Bruxa de Yeborath  Iebora, em árabe يعبره significando Cruzado, cruzamento, encruzilhada] aparece pela primeira vez, no contexto do estudo da História da Bruxaria, ligado ao nome do Santo feiticeiro. Ela teria sido uma das mestras do mago e ele, seu discípulo mais prestigiado, herdeiro de seus feitiços.


BABILÔNIA:
FEITICEIRAS DE ENCRUZILHADAS
NOS PRIMÓRDIOS  DA BRUXARIA


A migração da mítica da Bruxa de Évora:
da Babilônia até a Península Ibérica



Porém, esse encontro NÃO ACONTECEU na península Ibérica, como sugere o termo designativo, distintivo da Bruxa, Évora que é uma cidade histórica de Portugal.

Segundo a biografia do feiticeiro Cipriano, seu encontro com a Bruxa aconteceu na Mesopotâmia, na Babilônia, [atual Iraque] onde se reuniam os ocultistas que  estudavam a magia dos antigos Caldeus [sobretudo Astrologia].

Os dois personagens, já legendários: Cipriano, o Feiticeiro e supostamente, um de seus Mestres, sendo uma certa Bruxa de Évora, parecem ser um caso de migração de mitos e sincretismo cultural.

Ambos, Cipriano e a Bruxa, originalmente, parecem pertencer ao acervo das crenças e figuras mitológicas que chegaram à península Ibérica em diferentes períodos históricos mas que combinaram-se perfeitamente no universo da mítica do sobrenatural: primeiro, chega a lenda Cipriano, já difundida no Martirológio cristão: o caso do Feiticeiro e sua misteriosa mestra deYeborath. O Bruxo que virou Santo.

Mais tarde, o juntamente com os Mouros sarracenos que invadiram e dominaram o território a partir de 715 d.C., vieram as bruxas misteriosas do Oriente, quase ciganas,  as bruxas dasYeborath ou Iebora, das encruzilhadas, das agulhas.

E, se sobre a Bruxa não há registro históricos de  espécie alguma, a não ser como arquétipo, sobre Cipriano, o Santo Feiticeiro, existem, ao menos, um parcos documentos, como sua Confissão depois da conversão ao Cristianismo.

Como foi dito, Cipriano – o Feiticeiro não somente encontrou uma certa Bruxa de Evora em sua passagem pela Babilônia como dela teria herdado os livros, as poções, os segredos do poderes de sua Mestra.

Considerando essa informação como fato possível, uma Bruxa ou feiticeira na/ou da Babilônia seria, naturalmente, versada naquele tipo magia característica da cultura Mesopotâmica, aquela normalmente classificada como magia das trevas, da mão esquerda, magia negra: Goecia, necromancia, vidência, evocações, parcerias com demônios, envultamentos [encantamento à distância: os bonecos de cera e as agulhas], oráculos.

Essas bruxas e bruxos foram aqueles que preservaram alguma coisa das tradições da magia das tribos nômades e reino antigos de tempos ainda mais arcaicos entre os quais destacam-se os Caldeus e os Assírios. Era uma Magia de sombras, freqüentemente desprovida de escrúpulos, sem critérios éticos, que livremente associava-se com entidades não humanas e pouco confiáveis: demônios, gênios, formas-pensamento, elementais, espíritos de pessoas mortas.

Uma bruxa assim poderia, mesmo ter existido. E não somente uma, mas várias. As bruxas de-ou-das Evoras seriam algo como uma categoria de feiticeiras. Voltando à etimologia da palavra Évora, embora sejam encontradas raízes em solo europeu,  não se pode desconsiderar aYeborath dos árabes que, como foi explicado tem como significado: Cruzado, cruzamento, encruzilhada.

Uma etimologia que sugere a tradução do termo Bruxa de Évora para Bruxa de Encruzilhadaou, bruxa que faz seus trabalhos em encruzilhadas, lugar de Pactos. [Lembrando uma característica que lembra a divindade grega Hécate, senhora dos encantamentos e do mundo dos mortos.]

Com uma pequena mudança gráfica e fonética, se Yeborath é dito Iebora, então o significado muda para Agulha, agulhas e assim resulta, Bruxa das Agulhas. Ou seja, uma bruxa que trabalha com agulhas [supõe este pesquisador, agulhas e bonequinho de cera. Meditemos]...


MAGIAS DE ÉVORA ANTES DE TUDO


Rastrear a trajetória geográfica da figura da "Bruxa de Évora" ao longo dos séculos passa, necessariamente pelo conhecimento do histórico da localidade de Évora até porque, se o folclore em torno desta personagem começa na Babilônia do século III d.C., a crença se perpetua além Oriente-médio, alcança com toda força mítica a vasta região da península Ibérica e, atravessando o Atlântico junto com os grandes navegadores portugueses e espanhóis, encontrou seu lugar no imaginário dos povos latinos-nativos-afro-americanos.

Se, de fato, existiu uma bruxa de Évora cuja vida se cruza com a vida de São Cipriano, esta personagem viveu [ou teria vivido] no século III, os anos 200 depois de Cristo. Nesta época, Évora era uma cidade romana, a Libetalitas Julia, conquistada em 57 d.C..

Contudo, a palavra Évora, ao que tudo indica é a denominação popular da localidade, antes e depois do domínio romano e, ainda, são várias as explicações para a origem deste nome. Plínio, o Velho (23–79 d.C.) – filósofo e naturalista, cronista romano, em seu livro Naturalis Historia, chama o lugar de Ebora Cerealis, por causa dos campos de trigo que dominavam a paisagem.

OS CELTÍBEROS

Os povoamentos na região, cujo centro, hoje, é a cidade Évora, abriga sítios arqueológicos que datam da Idade do Bronze [1.800 a.C.] e outros ainda mais antigos, do Paleolítico, Neolítico, Calcolítico [Idade do Cobre, cerca de 3.000 a.C]; de muito antes da Era Cristã. Sobre o passado remoto de Évora escreve J. Saramago:

Chamaram-lhe Ebora os celtiberos, e como Ebora Cerealis a tem nomeado Plínio, o Velho, na sua História Natural, o que servirá para dar testemunho de que as planuras transtaganas já davam pão pelo menos dez séculos antes que os "alentejanos" (os que viveram e vivem além do Tejo...) se tornassem portugueses(SARAMAGO, 2001).

Mitologia-folclore cristão-pagão e sarraceno [mouros] são apenas dois dos elementos que se misturam na composição da lenda e das imagens relacionadas à Bruxa de Évora. Uma influência ainda mais recuada repousa na história dos fascínios e medos dos povos que habitaram a Península antes de romanos ou mouros.

São os bárbaros celtiberos, dos quais fala Saramago no texto acima e outras nações várias que se miscigenaram com os supostos autóctones [nativos do local] lusitanos ou lusitani [em latim]  a maior das tribos ibéricas. Os lusitanos propriamente ditos são, geralmente, considerados como proto-celtas, celtas primitivos, migrantes, provenientes do norte europeu, mais especificamente os Célticos.

MAGIA DOS CELTÍBEROS

Uma xamã, ou feiticeira ibérica, [ou um xamã, o gênero é incerto] figura central no culto da Fertilidade, no Ocidente. É uma sacerdotisa. No peitoral, sete símbolos do sol. British Museum.

Estes primeiros habitantes organizados em aldeias e tribos da região, os celtiberos praticavam a magia européia ocidental mais primitiva, ainda eivada de crenças e práticas pré-históricas, como os sacrifícios humanos, por exemplo.

Nesse contexto, o papel das mulheres tinha grande relevância posto que exerciam o papel de Xamãs,curandeiras que se utilizavam do conhecimento das virtudes e das peçonhas fornecidos pela Natureza, poções para o bem e para o mal extraídas de vegetais, animais e minerais. No alvorecer da História, as bruxas eram como médicas: do corpo, da alma; intermediárias entre os homens e as forças da Natureza.

Foi essa magia primitiva que, aos poucos, transformou-se na Bruxaria da península Ibérica, resultado da interação com saberes de outras nações: romanos pagãos, romanos cristãos, bárbaros outros, pagãos originais ou romanizados; bárbaros cristianizados, Mouros (muçulmanos, Sarracenos).

Sobre a relação entre Évora e os celtíberos, estudos indicam que, a palavra e o lugar podem estar ligados a uma antiga divindade celta cultuada na região: Eburianus cujo símbolo é a árvore do Teixo. Houve tempo em que os lusitanos chamavam a atual localidade de Évora deEburobrittium (SÍMON, 2005).

ERA UMA VEZ... LAGARRONA-LAGARDONA

Segundo o livro de São Cipriano [o feiticeiro, século III d.C. anos 200], capa de Aço, no tempo em que os mouros viviam na região portuguesa de Évora, o rei mouro Praxadopel ali construiu um castelo, em Montemur.

Nesse lugar, hoje chamado Castelo de Giraldo [referência a Geraldo, o Sem Pavor – ... -1173? herói da reconquista da terra lusa ocupada pelos mouros], transformado em ruínas pelo passar dos séculos, em meio às pedras, louvado nas noites escuras pelo uivo de lobos e chacais, no fundo da propriedade, ocultos embaixo de montes de pedras, no Túmulo de Montemur, foram encontrados os restos mortais de sete pessoas e pergaminhos escritos por Lagarrona, aFeiticeira de Évora (também chamada Lagardona ou La Guardona).
 
* Os mouros, povos do oriente médio, somente poderiam ter ocupado a região depois período de expansão dos domínios árabes em suas incursões em território europeu, em uma época, portanto, pós-fundação do Islamismo. Porém as referências à uma bruxa de Évora remontam aos primeiros séculos do Cristianismo, por volta do século III, coincidindo com o período de vida de do bruxo Cipriano. Eis uma prova da dificuldade de identificar a historicidade dessa feiticeira tão famosa.


FOLCLORE DA FEITICEIRA EM PORTUGAL

Ruínas das muralhas: Castelo do Giraldo, cidade Évora – Portugal. O Castelo de Giraldo, mais que uma referência a uma edificação, refere-se a toda uma região que, hoje, é um sítio arqueológico de Portugal.



No tempo em que os mouros viviam na região portuguesa de Évora [e os mouros chamavam a cidade de Yeborath a Liberalitas Julia da época da dominação romana], o rei mouro Praxadopel ali construiu um castelo em Montemur  [região vizinha de Évora cujo centro é a cidade de Montemor].

Nesse castelo, hoje chamado Castelo de Giraldo, transformado em ruínas pelo passar dos séculos, em meio às pedras, louvado nas noites escuras pelo uivo de lobos e chacais, que, no fundo da propriedade, enterrada entre montes de pedras, está o Túmulo de Montemur. Nele foram encontrados os restos mortais de sete pessoas e pergaminhos [supostamente] escritos porLAGARRONA, a feiticeira de Évora.

Frei Antão de Sis, estudioso dos fenômenos mágicos e da feitiçaria, através dos pergaminhos, encontrou a casa da bruxa, ainda em pé, apesar do tempo. Descreveu-a como uma casa diabólica... No meio dela havia uma cova da altura de um homem. As paredes internas estavam repletas de desenhos representando lagartos, cobras, lagartixas caracóis, rãs, escaravelhos, símbolos egípcios, vespas, baratas e outros bichos peçonhentos.

Do lado de fora, havia quatro sapos e várias figuras de meninos tendo nas mãos molhos de varinhas de ervas com os quais ameaçavam os sapos. Ainda dentro da casa, em dos cantos dessa casa mal-assombrada havia a escultura de pedra de um cavalo-homem, como um centauro. Noutro lugar, outra estátua, esta, a de uma mulher-serpente. Em certo ponto do chão ladrilhado com cerâmica negra, uma inscrição:


O primeiro a abrir esta cova
Verá coisas jamais vistas
Cava por diante para que resistas [enfrentes]
ao grande temor que seu peito prova
Verás sortilégios mágicos que prendem os homens,
o filtro do amor que amarra as mulheres.
Não temas, não temas. Não mostres temor:
acharás sucessos, magia e amor
e, por certo, em tudo será vencedor.
Gran libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero, 1985

A BRUXA DE ÉVORA NOS LIVROS

Em Portugal A Bruxa de Évora é o modelo de bruxa. Mas não somente em Portugal: este modelo de bruxa está na fantasia de toda a Península Ibérica e nos territórios que foram descobertos e conquistados pelos grandes navegadores ibéricos da Idade Moderna.

É praticamente inexistente o material documental sobre a pessoa específica de uma Bruxarelacionada, residente ou oriunda da região de Évora. Livros, biografias sobre essa personagem são poucos e contém informações de fonte duvidosa e/ou desconhecida. Edições de obras bem conhecidas não mencionam datas ou originais. Dois livros destacam-se nessa bibliografia exígua: O Livro da Bruxa ou Feiticeira de Évora de Amadeo de Santander e A Bruxa de Évora, de Maria Helena Farelli.

No primeiro, no que se refere à biografia da Bruxa, o que se encontra, logo no primeiro capítulo é uma reprodução e/ou tradução de outro texto de autor praticamente desconhecido: capítulo do Livro de São Cipriano, sabe-se lá em qual de suas repetitivas versões mas, muito possivelmente da edição em espanhol Gran Libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero.

O capítulo, intitulado La Hechicera de Evora o Historia de La Siempre Novia (Siempre Novia, referência uma das lendas mais difundidas sobre a Bruxa) teria sido, supostamente, extraído [todo o capítulo] de um manuscrito cujo autor é um certo [ou incerto] Amador Patrício.

FEITIÇO DA COBRA GRÁVIDA

Outro supostamente episódio biográfico sobre a Bruxa relata o paradoxal encontro da Feiticeira com o Bruxo Cipriano, já cristianizado mas ainda especialista em bruxedos. O caso é conhecido com O Encontro de São Cipriano com a Bruxa de Évora. Neste encontro, Cipriano não parece um discípulo diante de uma antiga mestra. Ao contrário, é a bruxa, já em avançada idade que recorre ao novo cristão para realizar um feitiço que lhe renderia [a ela, bruxa] bom dinheiro. Trata-se do feitiço da cobra grávida, para segurar marido.

O ex-bruxo propõe uma barganha: a conversão da bruxa ao Cristianismo em troca da fórmula mágica. A bruxa aceita e eis a feiticeira de Évora transformada em penitente velhinha cristã. Ao final, a receita profana, destinada a recuperar o marido da contratante, uma jovem senhora da nobreza, pede o favor para a réptil gestante [a cobra grávida!] mas, isso em nome de Deus e da Virgem Maria! Uma combinação extravagante de feitiço pagão e reza cristã.

Santander, autor deste livro, O Livro da Bruxa ou Feiticeira de Évora, este autor é tão difícil de identificar e datar quanto a própria Bruxa de Évora. Ele começa sua obra sem qualquer introdução, identificando o período de vida da personagem que dá nome ao livro com o tempo da dominação Sarracena na península Ibérica, ou seja entre o século VIII e começo do século XII.

Escreve Santander: No tempo em que os mouros viviam na região portuguesa de Évora... E ao longo do capítulo descreve o que seriam os últimos anos de vida da Bruxa, claramente qualificada como Moura, muçulmana. No relato, a feiticeira tem um filho adulto e mau. ChamadoCandabul, desejou possuir uma jovem donzela cristã. A bruxa ajuda no rapto da moça, providencia a morte por enfeitiçamento todos os pretendentes dela. Mas o mal-feitor é preso e condenado à morte. Mais uma vez a bruxa interfere e se empenha em produzir mágicos meios de fuga para Candabul.  
LA GUARDONA, O FANTASMA DA BRUXA

Caçada pelos agentes da Lei, depois de várias peripécias, ela acaba morrendo durante um acidente na realização de um de seus feitiços, que fazia em uma tentativa desesperada de escapar da Justiça. Quando chegaram os soldados, encontraram-na morta. Não foi sepultada. Como punição post-mortem, foi pendurada na porta da própria casa e ali ficou apodrecendo e sendo devorada pelos abutres e vermes. O cadáver, lentamente virando ossada, oscilando ao sabor das ventanias, era uma visão macabra que parecia vigiar o lugar e a bruxa morta passou a ser chamada de La Guardona [ou, as corruptelas, Lagarrona e Lagardona], algo como A Guardiã... da casa, de suas ruínas e arredores. O local, naturalmente, passou a ser temido e considerado como assombrado [Gran Libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero, 1985].

Todavia, mais adiante, quando fala do encontro da feiticeira com o ex-mago negro, o autor [Santander] ignora completamente os dados históricos que, se pouco dizem também sobre a vida do bruxo Cipriano, ao menos bem determinam a data de sua morte, martirizado por ser cristão em 304 d.C., muito antes, séculos antes, portanto, da Bruxa de Santander ter protagonizado aquelas aventuras. No episódio do feitiço da cobra grávida, o fim da bruxa é outro: cristianizada, bem aposentada com o ouro do último bruxedo que fez por contrato e empregada como Aia [criada pessoal] de uma condessa.

LENDAS, FÓRMULAS & SEGREDOS

Torna-se claro que os relatos sobre a bruxa de Évora são de fato, um conjunto de lendas e seus supostos escritos são de origem desconhecida, excertos de Grimórios mais antigos de autoria igualmente duvidosa. Alguns são atribuídos a este ou aquele mestre mais conhecido na esfera do folclore, da cultura popular, como Alberto, o Grande, Papa Honório, bruxo Atanásio e o próprio Cipriano, o feiticeiro.

Muitas das receitas dos Grimórios são fórmulas de remédios caseiros, acervo de um saber muito útil em uma época em que a medicina dispunha de toscos recursos e médicos com estudo eram poucos e para ricos. Muitos dos Segredos da Bruxa revelados no livro de Amadeo de Santander fazem parte da sabedoria popular dos curandeiros e curandeiras de linhagem imemorial, uma herança que durante muito tempo foi preservada e transmitida através da cultura oral.

A própria Bruxa apresentada por A. de Santander em sua pretensa-original tradução-reprodução do Único e autêntico manuscrito comprovado pelos sábios da Galícia extraído do Flor Sanctorum, datado dos tempos dos mouros de Évora, a feiticeira comenta revelando algo possivelmente verídico na vida de muitas Bruxas de Évora: que seus conhecimentos foram-lhe ensinados pela mãe, segredos passados de geração em geração. Explicando a Cipriano em que consiste o seu [dela] feitiço da Cobra Grávida Para Prender Marido ela revela algo de recorrente na biografia dessas bruxas de Encruzilhadas:

É pele de cobra com flor de suage [ou sage, Artemisia vulgaris ou, ainda, flor-de-são-joão, erva-de-são-joão, artemísia-verdadeira, losna, absinto. L.C.] e raiz de urze[Erica Lusitanica ou torga e/ou Calluna vulgaris] que estou queimando em nome de Satanás, para defumar as roupas do duque [o Grão Duque de Terrara] e ver se o desligo daquela mulher [uma amante]. Esta mágica foi sempre infalível quando minha mãe a praticava debaixo dessas abóbodas em que as mãos dos homens não tomaram parte. Minha mãe desligou com ela [a tal magia] mancebais [relações extraconjugais] de nobres e monarcas...
(SANTANDER,  p 13)

O ENCANTAMENTO DA BRUXA

...a Bruxa de Évora foi vista voando em um bode preto...
voava... acompanhada por um veado e um javali alados..
.
(FARELLI, 2006 p 26)


Em A Bruxa de Évora, Maria Helena Farelli (2006) apresenta a personagem como arquétipo folclórico luso-hispano-brasileiro, com ênfase nas raízes portuguesas da lenda, já devidamente hibridizadas entre: 1. o druidismo celtíbero doméstico; 2. o culto romano à deusa Diana  [correspondente à grega Artemis], cujas ruínas do templo ainda podem ser visitadas em Évora; 3.a figura mítica da moura feiticeira, freqüentemente apresentada, simplesmente e depreciativamente como a Moura Torta, um modelo de bruxa, tudo isso misturado ao – 4.ritualismo cristão das orações e adoração dos santos e das relíquias e nome sagrados.

Em Farelli (2006), a narrativa passa, como é necessário, pela história da nação lusitana, detendo-se em período em que a cultura popular mística-religiosa já tinha absorvido elementos que ficaram como herança do tempo da dominação islâmica-sarracena em toda a península Ibérica. Boa parte dessa herança consiste no universo misterioso na magia semita, caldaica, mesopotâmica: dos magos-alquimistas, astrólogos, videntes, quiromantes, necromantes – invocadores de gênios e espíritos dos mortos, magia-negra, também, sim, da mais antiga tradição árabe, pré-Islã. Segundo Farelli a Bruxa de Évora era a ...guardadora dos segredos dos feitiços do Oriente, a que voava em camelos alados... (FARELLI, 2006 – p 15).

Sobre o sincretismo no qual foi forjada a Bruxa de Évora, a autora escreve: ...o português sempre acendeu uma vela para Deus e uma para o outro. Até na Igreja ele fazia mirongas... Até os padres eram acusados desses feitos. Mas os considerados grandes bruxos eram os mouros e os judeus... (Idem, p 29). E mais: ...segundo a lenda, a Bruxa de Évora era moura... árabe ou mourisca... morena... (Ibid., p 29).   

BRUXA ERUDITA

Em relação à aparência, A Bruxa de Évora (FARELLI, 2006) apresenta o arquétipo folclórico da personagem em sua velhice. Esta esta é uma daquelas bruxas velhas e esquivas dos contos infantis. Mas, ao contrário do modelo da curandeira intuitiva, analfabeta, camponesa ignorante cujo conhecimento é todo proveniente de experiência pessoal e herança de tradições orais, em Farelli (Idem) a bruxa de Évora é praticamente uma erudita. Alfabetizada, poliglota, ela fala,  lê e escreve em português [o gentílico da época], árabe e latim.

Sem citar sua fonte de informação, a autora enfatiza: Sabia matemática... reconhecia as estrelas,... sabia ler a sorte nas areias... Ela conhecia a magia de seus ancestrais muçulmanos* mas, vivendo no século XIII [anos 1200], também sabia [da magia] dos celtas...(FARELLI, 2006 – p 33). Todavia, a moura pagã era, ao mesmo tempo, devota cristã: ...a velha bruxa já tinha feito a peregrinação a Santiago de Compostela [tradição cristã]... Já tinha ido à Sé de Braga, muitas vezes, pagar promessas... (Idem) ...E, ainda: ...a bruxa de Évora não era uma herética. Era uma mulher que conhecia as rezas (Ibid., p 41).


* Um equívoco comum do olhar superficial do Ocidente sobre o Oriente. Há muito tem-se confundido cultura árabe com cultura de muçulmanos. A magia não poderia ser praticada por uma muçulmana. O Islã proibiu,  sujeitando a severas penas, a prática da magia tradicional pré-islâmica. Na verdade, a famosa riqueza da cultura árabe precede o Islã; uma riqueza que o Islamismo cuidou de mutilar ao longo de mais de um milênio e declina, mais e mais, com a expansão e recrudescimento fundamentalista da fé no Alcorão e sua teocracia –  repressiva, opressora e regressora, baseada em leis supostamente religiosas suplementares – as Sharias, diferentes para as diferentes seitas muçulmanas, que ignoram até mesmo os preceitos estabelecidos no confuso livro sagrado desses crentes.

Além disso, essa Bruxa de Évora era uma senhora em situação social e de comportamento atípicos para sua época. Vivia bem [ou seja, não passava dificuldades financeiras, materiais]. Tinha dinheiro proveniente da prestação de seus serviços mágicos e/ou técnicos-científicos. Porém, consciente do espírito dos tempos medievais, não ostentava riqueza ou poder. Era discreta, sabiamente. Andava pobremente vestida, Era seu jeito de ficar invisível e evitar confrontos com as autoridades religiosas.

O LIVRO DA BRUXA QUE NÃO É DA BRUXA

Flos Sanctorium ou Flos-Santorio: Flor dosSantos

Como todo ocultista, seja leigo ou erudito, considerando uma figura histórica da Bruxa como precursora ou símbolo de um mito, a Bruxa de Évora, alfabetizada que era possuía ou devia possuir seu próprio Livro [ou livros] de estudos e anotações contendo fórmulas de elixires, ungüentos, poções, rezas, rituais e outros saberes. Nos meios exotéricos, o livro de registros pessoais de uma bruxa é chamadoLivro das Sombras.

Um possível Livro da Bruxa de Évora seria – ou foi e é, um objeto que, se autêntico, atraiu e atrai curiosidade e cobiça proporcional à força lendária de sua suposta autora. Um objeto digno de um Museu de história da cultura ocidental. De fato, este Livro é um dos elementos mais explorados do folclore em torno da Bruxa; explorado, inclusive, no mercado editorial.

Porém, o texto que tem atravessado séculos e que Amadeo Santander reproduz em seu Livro da Bruxa (s/data), este texto é uma mutação de autoria desconhecida o suficiente para ser considerado de domínio público. Na folha de rosto de uma edição recente Santander e/ou a editora [seja lá quem for este autor] declara que a obra reproduz o único e autêntico manuscrito... [cópia] do original extraído dos Flos Sanctorum, datado do tempo dos mouros de Évora.

Esta informação é uma encruzilhada na pesquisa: ocorre que o Flos Sanctorum [ou Florilégio dos Santos, Flor dos Santos] a princípio, é Hagiografia: um livro que reúne biografias de santos [?!]. E a situação se complica posto que o Flos Sanctorum, segundo estudos é, por sua vez, reedição de um livro mais antigo, A Lenda Áurea ou A Legenda Áurea que também é, essencialmente, coletânea de vidas de santos, escrito-compilado por Jacobus de Voragine [1230-1298, italiano, religioso dominicano, arcebispo de Gênova], datado em em torno do ano de 1260.

A questão é: como pode, o Livro da Bruxa apresentado por A. Santander ser extrato, derivação de um Flos Sanctorum de qualquer século? Tudo indica que o Livro da Bruxa não é, de modo algum derivado de manuscritos de uma Bruxa de Évora. O nome da Bruxa, nesse caso, tal como no caso do penitente Bruxo Cipriano é usado como atrativo de mercado. Caso simples de propaganda enganosa. Em ambos os casos, os Livros atribuídos aos lendários autores são coletâneas de simpatias e receitas populares, tradicionais, resgatadas do acervo da cultura oral, misturadas com rezas e saberes práticos destinados a solucionar os problemas do corpo e da alma do Homem medieval.

MAGIA PRÁTICA, MUITO PRÁTICA
comentário ao conteúdo de O Livro da Bruxa de A. Santander

No livro de A. Santander as receitas mágicas, feitiços, oráculos, começam no CAPÍTULO III com uma técnica muito útil, atemporal! que pode funcionar em qualquer época, para as mulheres se livrarem dos homens quando estiverem aborrecidas de os aturar. A seguir, uma receita infalível para as mulheres não terem filhos, tão útil quanto anterior ou mais, método bastante tradicional, utilizando esponjas do mar introduzidas na vagina antes do coito, truque já usado no Egito Antigo, por exemplo. Há magias para sedução, rejeição e fidelidade, para prosperar no trabalho honesto ou desonesto. Oferece proteção contra inimigos, oráculos para saber do presente e do futuro, feitiços e contra-feitiços.

O CAPÍTULO IV resgata a figura do mago egípcio Janes [que, juntamente com seu parceiro,Jambres], que confrontou Moisés e Arão diante do Faraó com uma disputa de poderes mágicos. Este personagem, o mago egípcio Janes, pouco lembrado nos dias correntes, também é citado nos Livros de são Cipriano, fortalecendo as alusões a uma ligação, mestra-discípulo entre o Santo Bruxo e a Bruxa de Évora. Em uma das versões da fim da vida da Bruxa, ela é convertida ao cristianismo por Cipriano e termina sua vida como devota católica e aia [camareira pessoal] de uma aristocrata.

Neste capitulo,continuam sendo listadas magias relacionadas com questões mundanas,cotidianas,incluem ainda, receitas de beleza: Para conservar a formosura, para afinar, limpar e clarear a pele, tingir os cabelos. Em uma das formulas o mago Jambres promete: ...Fazer sumir do corpo e do rosto as verrugas, manchas e outras excrescências da pele.

O CAPITULO V é dedicado à Pastoromancia, denominação imprópria, refere-se à chamada, por ocultistas como Eliphas Levi [Alphonse Louis Constant, 1810-1875] e Papus [Gérard Anaclet Vincent Encausse, 1865-1916], magia dos campos, da tradição dos pastores da Sicilia, Itália. E não são propriamente magias.

São receitas, mais especificamente, medicinais, parte do arsenal curativo popular dos precários tempos medievais. São remédios e rezas para combater, solitária [Taenia solium, verme platelminto], hemorróidas, lesões musculares, surdez, dor de dentes, feridas, úlceras, hemorragias, queimaduras, picada de insetos e animais peçonhentos e, é claro, receita contra calos e verrugas.

O CAPITULO VI promete revelar o segredo alquímico da arte de fazer ouro. Porém, como sempre acontece nesse tipo de "literatura" o texto nada fornece de aproveitável sobre o tema. Aliás, passa longe de qualquer fórmula de produzir ouro.

São mencionadas umas poucas substâncias muito usadas em outras operações mágicas registradas em outros manuais do gênero. Tais substancias seriam ingredientes-chave da transmutação de materiais ordinários no precioso metal. Escreve Santander: Não faltam nos livros verídicos [?] exemplos que comprovem essa operação. E ainda: Esta arte é de grande facilidade [!] mas exposta a graves perigos porque não se pode executar em a cooperação do demônio (SANTANDER, p 59).

É o demônio quem prepara e fornece certos pós empregados na transmutação. Dois metais e uma outra substância são mencionados como ingredientes essenciais: argenteo vivo[possivelmente interpretável como Alumínio (Al) mas muito mais provável que seja redundância esclarecendo o azougue como sendo e elemento Mercúrio cujo símbolo é Hg provém da designação latina – hydrargyrum que significa prata líquida.

De fato, o Mercúrio assemelha-se a uma prata buliçosa e vívida [por sua consistência entre o fluido e o gel]; daí também a denominação azougue [para o mercúrio], aludindo a algo buliçoso, que não para quieto. Finalmente, entre os ingredientes da transmutação comentada em O Livro da Bruxa é mencionado um misterioso pó de Resh [Veja box ao lado].

Galiza ou Galícia é uma comunidade autônoma espanhola, fronteira com Portugal, situada a noroeste da Península Ibérica. Sua capital é Santiago de Compostela, na província da Corunha. As informações sobre estes tesouros foram alegadamente extraídas de um pergaminho que teria sido encontrado nas ruínas do castelo mourisco de Altamira [abaixo] no ano de 1065.


Sobre o paradeiro do pergaminho (no século XX) diz o autor (Santander) que encontra-se [ou encontrava-se...] em Barcelos, [cidade portuguesa, norte do país], na Biblioteca Acadêmica Peninsular Catalã. 

Muito danificado, o pergaminho tem partes carcomidas e em alguns casos não se entende bem(SANTANDER, p 63]. Na verdade, todo o texto sobre os supostos Tesouros da Galiza não se entende nada bem, por exigüidade de informações e/ou por arcaísmos nas denominações topográficas, medidas de distância e valores.

Os termos usados nos textos dos 173 (cento e setenta três) segredos estão repletos de termos muito antigos. Exemplos: Encruzilhada de Lobios, distância de 32 homens... depositamos 500 cunhos, na ponte do Poderoso, à profundeza de dois homens... [na]... residência de frei Tramudo... um haver de prata em rama... entre dois troncos de pinheiro, etc.

Deste modo, as dezenas de segredos que deveriam revelar ou fornecer chaves de localização de tesouros, parecem nada significar; de nada servir aos caçadores das arcas e das botijas perdidas.

Todavia, se um crédulo ou teimoso arriscar apostar em algumas das 173 dicas vai precisar estudar exaustivamente para decifrar/traduzir os nomes de localidades, que mudaram muitas vezes, identificar personagens históricos, descobrir e converter para termos atuais valores das distâncias e das supostas riquezas.
CAPÍTULO VIII   ORÁCULO DOS SEGREDOS
REVELADOS  PELA  FEITICEIRA  DE   ÉVORA

São 108 estes segredos que o autor (Santander) classifica como maravilhosos. Porém o capítulo, na realidade apenas reúne mais receitas, cujo teor oscila entre a superstição e o curandeirismo mais popular.

Pretender fornece fórmulas para uma miríade de problemas da condição humana: desde a prática de proezas sobrenaturais, remédios caseiros para questões domésticas mais ou menos ordinárias ou, ainda artifícios para alcançar desejos pouco louváveis e, certamente, nada cristãos.

Em termos gerais trata da saúde e higiene básicas, das virtudes de certas substâncias e de outras coisas, dos truques mágicos para obter vantagens, das operações consideradas sobrenaturais, como a levitação. São outros exemplos desses segredos textos que tratam de assuntos como:

Em saúde e higiene – Cura de dores de cabeça, evitar pulgas, carrapatos, percevejos, piolhos, formigas, moscas; são remédios par lombrigas, tosse, catarro. diarréia, desinteira; para evitar a sarna, para conhecer enfermidades pelo exame da urina, para manter a castidade, para cobrir os cabelos brancos. Para manter a castidade...

Sobre virtudes de substâncias e de certas coisas  Do vinagre, da urina, do ovo, da Genebra, da Artemísia, do Jacinto, do sono, de peles descartadas na muda das cobras. Para conhecer as enfermidades pelo exame da urina. Sobre as virtudes do sono.

Prodígios – Tirar o sal da água do mar. Separar água e vinho. Para que um cavalo pareça manco não sendo. Para não sentir tédio nem cansaço em uma jornada. Para o fogo não queimar. Descobrir infidelidades. Fabricar uma lâmpada invisível.


CAPÍTULO IX   FRENOLOGIA, ANTROPOMETRIA & FISIOGNOMIA


Trata-se de conhecer os indivíduos pelo estudo ou leitura do Crânio [fenologia], das Proporções e aspectos das partes do Corpo [antropometria] e dos traços do rosto [fisiognomia]. Capítulo bastante curioso que, muito provavelmente, mistura sabedoria popular com idéias científicas que tornaram-se populares.

Além disso, esse tipo de  conhecimento é matéria essencial para qualquer magista e/ou ocultista, uma tema especial entre todos os tópicos dos estudos das Ciências Humanas [no ocultismo].

Embora estas ciências tenham origens muito antigas, o texto de Santander em O Livro da Bruxa é fundamentado nos estudos do médico alemão Franz Joseph Gall (1758-1828, que mapeou crânio e cérebro segundo suas supostas funções):

Gall, o notável médico e fisionomista... é o autor deste engenhoso sistema, que ensina a descobrir, por claríssimo modo, as inclinações, vícios, paixões e virtudes de todas as pessoas pelo simples exame e configuração do crânio. ...Não se pode por em dúvida a lógica desse sistema. ... Os homens mais notáveis, tanto por seus talentos como por seus crimes, raras vezes apresentam cabeças regulares [SANTANDER].

Santander fornece a lista das faculdades cerebrais, que são trinta associadas a trinta regiões crânio-cérebro, mas não apresenta o mapa concebido por F. J. Gall. A seguir passa a tratar da fisiognomia, estudo dos traços e formas do rosto fornecendo algumas dicas sobre a leitura dessas características: formato, tamanho dos olhos, nariz, testa, boca, dentes, queixo, orelhas, mãos, pés.

Também fala dos tipos físicos como um todo, considerando altura, compleição, postura. Porém, o estudo apresentado por Santander muito superficial se comparado a outros publicados por ocultistas mais eruditos, como Papus [Gerard Anaclet Vincent Encausse, 1865-1916].

CAPÍTULO X   CARTOMANCIA

Neste penúltimo capítulo, mais uma vez, misterioso manuscrito revelaria a técnica da suposta Bruxa de Évora no ofício oracular de ler o destino das pessoas nas cartas de um baralho comum. 

Na misérrima choça que abrigava a bruxa, sua última morada antes da condenação e num falso compartimento que lhe servia de dormitório, foi achado um manuscrito esta nova arte de deitar as cartas, a que demos o nome de cartomancia cruzada e, ao que parece, [desta técnica] a feiticeira começou a fazer uso depois de ter-se indisposto com Satanás[supostamente, a Bruxa  converteu-se ao Cristianismo por influência do também ex-feiticeiro Cipriano – [p 139].

Observação: Na cartomancia, as cartas podem deitadas [tiradas e postas na superfície de um plano] em disposição linear, uma ao lado da outra, é muito comum. A forma cruzada dispõe as cartas de modo a formarem a figura de uma cruz, com uma tiragem de cinco cartas, por exemplo. Isso isentaria a prática de tirar a sorte do estigma do pecado que consiste, justamente, em fazer uso de oráculos. Meditemos...

CAPÍTULO XI   SOBRE ASSOMBRAÇÕES

Finalizando o Livro, Santander apresenta uma pequena coleção de casos de assombrações, sem faltar a célebre casa assombrada de Atenas e referências a personagens do folclore histórico, especialmente da península Ibérica, como: o Frade da Mão Furada e a Velha nos telhados das casas. Crenças que chegaram ao Brasil colônia como atestam pesquisas de estudiosos do assunto.sofadasala.com